Há anos as fake news e seus impactos têm protagonizado discussões em todo o mundo. Esta semana nos deparamos com o movimento Stop Hate For Profit – em tradução livre, pare de dar lucro ao ódio que impulsionou pequenas e grandes marcas como: Coca-Cola, Starbucks, Pepsi, Unilever, entre outras centenas empresas pararem de anunciar nas redes sociais durante o mês de julho.
Perguntamos ao Orkut Buyukkokten, pioneiro das redes sociais no Brasil e CEO da Hello Network, rede social que conecta as pessoas por paixões, a responsabilidade das redes sociais no combate às fake news e discurso de ódio, o impacto no cenário político e de saúde pública e, por fim, sobre moderação de conteúdos dentro das redes. Veja:
1. Um estudo recente chamado Digital Iceberg, da Karpersky, mostrou que 67% dos brasileiros não conseguem identificar fake news. Na sua opinião, como isso é um problema ou ameaça a sociedade?
Identificar o que é real e o que é falso se tornou um grande desafio para a nossa sociedade, principalmente com o aumento do consumo de notícias on-line por meio de redes sociais, como o Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp. Isso também afetou o quanto confiamos nos meios de comunicação tradicionais. Uma pesquisa recente mostrou que 62% dos adultos acreditam que as notícias que vêm em jornais, na televisão ou que ouvem no rádio são imparciais e que 44% delas não são verdadeiras.
Nossa incapacidade de identificar as fake news é uma grande ameaça em nossa sociedade. A disseminação de fake news foi utilizada para manipular opiniões públicas, pesquisas e até mesmo eleições. Outra coisa igualmente perigosa é a velocidade com que as coisas podem se espalhar na era digital, e o fato de que celebramos a viralização das coisas (#seguidores, #retweets, #visualizações), que encoraja as pessoas a tentar ver e compartilhar os artigos ou opiniões mais extremas. Vemos isso com frequência em ambientes políticos e também em coisas que têm consequências sérias, como com relação à pandemia e em outros casos sérios da vida real. Seja reportando números falsos de casos de Covid-19, promovendo o uso de um medicamento sem eficácia comprovada, como a hidroxicloroquina, para o tratamento de Covid-19, resultando em um impacto físico de longo prazo e até em mortes, ou até sistemas comunitários cotidianos, como o alerta “amber”, nos EUA, usado para crianças desaparecidas, e os sistemas de alerta de emergência que enviam mensagens para todos dentro de uma determinada distância, se as pessoas começarem a achar que essas mensagens são mentiras, muita gente pode morrer em um desastre natural, ou uma criança pode acabar não sendo salva.
++ 7 Passos de mentalização que podem ajudar a atingir os seus objetivos
Ironicamente, vivemos em uma era em que vivenciamos uma enorme falta de liderança e temos dificuldade para confiar em nossas autoridades. Às vezes, não podemos confiar nem mesmo nos nossos presidentes. Isso mostra que a confiança não é necessariamente relacionada à popularidade ou à dominância. A popularidade ou dominância, às vezes, é um simples fruto da riqueza ou do poder. Por isso, é mais importante do que nunca apoiar o jornalismo honesto e a integridade jornalística.
2. No Brasil, temos um passado recente de disseminação em massa de fake news pelas redes sociais, como o WhatsApp, que impactaram situações políticas e sociais. Na sua opinião, o que poderia ser feito para evitar a disseminação de fake news nas redes sociais?
As empresas de mídias sociais de hoje em dia não pensam no bem dos usuários. Elas se concentram no tempo gasto, cliques em anúncios, lucro, marqueteiros, anunciantes e corporações em vez de pensar nos usuários. As redes sociais têm uma grande variedade de tecnologias com um potencial incrível para aumentar a felicidade e criar conexões significativas. Essa tecnologia também pode ser usada para evitar a disseminação de conteúdos falsos. Mesmo assim, essas empresas gostam de contas falsas, fake news e do engajamento gerado pelas fake news, pois elas têm um impacto positivo no tempo gasto e no lucro gerado por seus serviços. Eu acredito, de coração, que podemos usar o poder e a tecnologia para apoiar nossa sociedade, aumentar a felicidade e promover notícias e conteúdos verdadeiros.
As empresas de mídias sociais precisam fornecer a infraestrutura, ferramentas e equipes de suporte necessárias para promover um ambiente saudável. As notícias devem ser disseminadas com base na reputação da fonte, não em quanto a fonte está disposta a gastar para divulgar seu conteúdo. Na vida real, quando encontramos alguém pela primeira vez, essa pessoa é um estranho, que se torna um conhecido, depois um amigo e, talvez, um amigo próximo ou melhor amigo. A quantidade de comunicação, confiança e reputação dessa pessoa aumenta com o tempo. Não acreditaríamos cegamente em um estranho que acabamos de conhecer. Nós deveríamos imitar essa reputação que existe na nossa sociedade em serviços on-line também. Nós construímos o hello pensando nessa reputação e criamos um sistema de gerenciamento de reputação complexo que chamamos de Karma. Isso permite que o conteúdo seja amplamente disseminado apenas se for de qualidade. A qualidade deve ser conquistada na comunidade, fornecendo, contribuindo e interagindo com outros usuários e conteúdos de maneiras saudáveis.
3. Como poderíamos melhorar nosso uso das redes sociais?
Mesmo quando as redes sociais fornecem uma correção ou retratação, ela só é distribuída para uma pequena parte do público, em vez de ser distribuída a todos que receberam a mensagem falsa original. Claramente, é difícil para nós, como humanidade, nos unirmos quando as pessoas começam a presumir que todos estão mentindo sobre tudo e que você nunca vê as pessoas se desculpando. Em vez de esperar que mensagens essenciais viralizem, as redes sociais poderiam se esforçar mais para fornecer o acesso à verdade e aos fatos. Para que tenhamos liberdade de expressão, é importante que sua opinião não seja oprimida. Porém, ainda há uma questão importante: as pessoas têm o mesmo direito de propagar informações que são sabidamente mentiras?
Eu gostaria que nós acordássemos todos os dias sabendo que todos podemos participar de conversas honestas, felizes e verdadeiras on-line e criar um mundo melhor. Precisamos participar de espaços on-line que cultivem interações autênticas, genuínas e reais. Todos precisamos estar cientes de que o que publicamos na internet deixa um rastro, pode se propagar para uma grande comunidade e ter um impacto social. Isso é ainda mais importante quando compartilhamos conteúdos. Temos que compartilhar coisas de pessoas e fontes que conhecemos e em que confiamos.
4. Qual é a sua opinião sobre a moderação nas redes sociais para evitar fake news ou notícias incendiárias? Isso é necessário? Por quê?
Infelizmente, é tecnicamente quase impossível confiar apenas no aprendizado de máquina e na inteligência artificial para evitar conteúdos falsos ou prejudiciais. A moderação manual será necessária quando o serviço precisar fazer uma decisão subjetiva sobre assuntos mais complicados. Dar a usuários confiáveis a autoridade de ajudar a moderar o conteúdo constrói uma comunidade mais saudável.
Há muitas ideias pré-concebidas em nossa sociedade e no conteúdo disponível on-line. Os algoritmos que utilizam o aprendizado de máquina para treinar seus conjuntos de dados que incluem essas ideias pré-concebidas vão acabar resultando na repetição dessas ideias on-line. Essas ideias pré-concebidas podem favorecer homens em vez de mulheres para empregos, ou caucasianos para a abertura de crédito em vez de pessoas de outras etnias em solicitações de empréstimos. Isso também acontece com ideias pré-concebidas em fake news. Consertar nossos algoritmos não é algo fácil de fazer. Abolir a discriminação e apoiar a diversidade na humanidade tem sido um processo longo e contínuo em que ainda estamos trabalhando. A moderação nas redes sociais precisa de um equilíbrio entre os algoritmos de computadores e o julgamento e a interferência humana.
5. Qual é a sua opinião no debate sobre a moderação de conteúdos que contêm informações incorretas ou incendiárias nas redes sociais ser uma ameaça à liberdade de expressão? Quando é certo ou errado remover ou censurar esse tipo de conteúdo? A fonte deles importa?
Devemos permitir a liberdade de expressão desde que ela não prejudique outros indivíduos ou nossa sociedade. Conteúdo como as fake news que afetam uma eleição, promovem a violência ou o preconceito, anúncios de medicamentos prejudiciais que podem causar a morte de pessoas e conteúdos que promovem a automutilação ou suicídio devem ser removidos. A fonte das notícias importa, com certeza. As fontes respeitáveis, fontes em que os leitores confiam, fontes que existem há bastante tempo, devem ser acomodadas melhor e priorizadas.
*Por Orkut Buyukkokten e contribuição da equipe da Hello Network
Cupons de Desconto em Lojas Parceiras
Veja + Cupons
